segunda-feira, 17 de março de 2008

Meu sobrinho faz mais barato!

Olá gente,

Peço licença pra citar mais duas pessoas que comentaram a minha coluna, e por sinal clientes: A Beatriz da Tropic Air – Táxi Aéreo, que me felicitou e desejou novos negócios a partir da coluna, já que vários empresários que se acham órfãos na região, acabam por perceber os nossos ideais e nossa visão sobre o assunto e que na nossa região tem profissionais competentes, e também o nosso amigo Beto do Axé Moi, que gostou das considerações e como cliente entende perfeitamente as colocações, e que o melhor a fazer é o empresário entregar a campanha nas mãos do profissional que julga competente, e o erro ou o acerto da escolha estará expresso nos resultados obtidos. Obrigado a vocês pelo incentivo!

Meu sobrinho faz mais barato!

Em todo trabalho de web, vídeo, design, criação gráfica, logotipos ou propaganda, na hora dos orçamentos, sempre aparece alguém e diz a fatídica frase: - “eu tenho um sobrinho que faz mais barato.” Não que eu tenha algo contra os sobrinhos, até porque também sou sobrinho, mas a área da comunicação está infestada de sobrinhos carregados de boas intenções, que fazem trabalhos baratinhos, nada profissionais e que, na maioria das vezes, precisam ser refeitos por quem realmente entende do assunto.

Recentemente um publicitário amigo passou por um mau pedaço porque o sobrinho do anunciante “era um gênio da música” e o rapaz quis ajudar na elaboração de um jingle, onde se usava o jazz, e este, por pouco, não fosse à intervenção do meu amigo, teria virado um autêntico samba do crioulo doido.

O uso dessa fantástica ferramenta chamada computador tornou fácil para qualquer um que saiba apertar teclas e descobrir recursos, adquirir quase que por magia, sem nenhum esforço “o dom da criatividade”. São milhares de efeitos bonitinhos, mas ordinários, na mão de quem não sabe usá-los corretamente. O cliente precisa aprender que efeito, sem conceito, é defeito.

Ora, por traz de todo trabalho de comunicação tem que haver um conceito bem pensado e definido. É aí que entra a experiência e o saber fazer. Não estou defendendo os da minha idade e nem tenho nada contra os sobrinhos dos outros, mas há trabalhos e trabalhos. Há serviços para fuzileiros navais que vão lá, desembarcam na praia e tomam o terreno e, há serviços para escoteiro-mirins. Você escolhe com quem quer trabalhar. Ou com um profissional que pode resolver definitivamente o seu problema ou vai deixar meninos brincarem com o seu tempo, dinheiro e paciência.

Os cursos de comunicação, como todos os outros que proliferam pelo Brasil nos últimos anos, prometem emprego fácil, altos salários e muito glamour na profissão. Despejam no mercado centenas de sobrinhos ávidos em conquistar os seus lugares ao sol. Tudo bem, é a ordem natural das coisas, mas daí a disputar trabalhos sérios, sem antes ter passado por um aprendizado duro e castigante vai uma enorme diferença.

Outro dia, deparei com um moça que havia montado uma agência de propaganda sem nunca ter pisado em uma. Ela simplesmente achou que o negócio dava dinheiro, abriu o negócio (sem duplo sentido), e até tinha conquistado alguns clientes. Mas que tipo de serviços e resultados em vendas ela pode oferecer aos seus clientes? Não estamos mais no tempo em que qualquer mídia no ar resolvia as questões de vendas.

Em propaganda, quando o resultado final é ruim sempre temos dois culpados: quem apresentou a idéia e realizou o trabalho e quem o aprovou. Mas como muitos dos que aprovam, atualmente, estão no mesmo nível dos que fazem - a mediocridade, que quer dizer, “nivelar por baixo, ou pelo menor preço sem pensar na qualidade e resultado”, impera. É por isso que se vê tanto trabalho ruim por aí, sobrinhos de todos os lados fazendo lambanças sem antes aprender a trabalhar de fato.

Quando eu era jovem e ansioso o meu guru profissional, um publicitário de mão cheia, naquela época, dizia que “nenhum homem de publicidade é respeitado antes de chegar aos 30 anos.” Eu espumava de raiva ao ouvir isto. Mas com o passar dos anos fui percebendo que ele tinha razão. Mais tarde ouvi um grande artista plástico dizer que todo profissional leva no mínimo 10 anos para começar a ficar bom. Acho que a conta dos dois está certa, o aprendizado precisa ser cumulativo. É preciso errar e perceber o erro para se aprender.

É que a arrogância e o tempo para se maturar idéias não está sendo respeitado. Em comunicação, atualmente, se pega à idéia mais engraçadinha e finaliza o trabalho. Ora, a idéia mais engraçada nem sempre é a que vai dar a sustentação da marca e promover as vendas. Nada contra a moçada, estagiários e recém formados, eles não têm culpa das novas circunstâncias comerciais e das mudanças que o deus Cronos está nos impondo, “o tudo para ontem”, e nem das normas do Rei Midas, o “ganhar dinheiro fácil e rápido”. Se dar ao trabalho de pensar exaustivamente, analisar por todos os ângulos, buscar um conceito bem definido para um produto, marca ou serviço, ir a fundo na pesquisa do comportamento do consumidor, pensar com a cabeça do outro, não faz parte do trabalho, criar efeitos, sim. Mas veja o tipo de efeitos a moçada está criando: os da pirotecnia, isto é muito barulho para dar em nada.

Imagine a seguinte situação: O seu carro pifa, você reboca até o mecânico, ele te informa que a correia dentada arrebentou e vai ter que arrumar tudo, você se vira para ele e diz: – “Pode deixar que eu mesmo arrumo.” Ou ainda, você vai ao médico e ele te diz que, infelizmente, você terá que ser submetido a uma complicada cirurgia no cérebro. E você: - “Não precisa doutor, tenho um sobrinho que é escoteiro e sabe tudo de primeiros socorros, depois ele faz isso pra mim!

Agora, ninguém acha estranho na hora de fazer uma campanha e o cliente resolva fazer sozinho ou chamar um sobrinho que faz algo “parecido”. Quantas vezes já vimos comercias de tv que dá vontade de chorar, não porque retratam dramas, mas porque são tão ruins que chegam a doer.

Na verdade, o que o cliente precisa, é informar algo ao consumidor. Se a informação não ficar clara, todos perdem. Como quando eu estava na primeira série e cheguei para o meu pai dizendo: - “Pai, a professora pediu um negócio que eu não lembro o nome, mas é feito de arame com umas bolinhas.” No dia seguinte estava todo mundo com um ábaco, e eu com um arame e um potinho, para fazer bolas de sabão.

Muitas vezes, pessoas me abordam, para mostrar um papel, que eles chamam de folder e me perguntam o que eu achei. Claro que se um publicitário aprovar, eles ficam mais do que satisfeitos. Cansei de criticar, agora só digo que ficou bom. Só esqueço de dizer que fiz uma operação no cérebro, feita pelo meu sobrinho.

Boa sorte, sucesso em suas campanhas
e grande abraço a todos!

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